Os leitores do nosso blog sabem que praticamente todas as denúncias feitas por nós nos últimos anos tornaram-se realidade. Vejam o caso de Cabral e sua gangue que assaltou os cofres públicos; Ricardo Teixeira e a máfia da CBF que enriqueceu às custas do futebol brasileiro; as contas da família Paes no Panamá; o escândalo dos precatórios e das isenções fiscais; as obras do Maracanã e do metrô entre outras.
Estamos terminando uma profunda investigação jornalística sobre o legado olímpico de Eduardo Paes. É de arrepiar. Sinceramente nem eu, que já desconfiava da safadeza, podia imaginar que a coisa chegasse a cifras tão altas e envolvesse personagens tão ilustres. Quando tudo vier à tona espero que não demorem 10 anos para punir os responsáveis, como fizeram com o governo Cabral.
No meio das investigações jornalísticas esbarrei num caso no mínimo curioso, e, é claro, ele está acontecendo na Barra da Tijuca, que é um dos focos do nosso trabalho. Esse caso não tem nada a ver com a Olimpíada, repito, encontrei no meio do caminho, mas ele é gravíssimo, porque envolve personagens que mais à frente aparecerão no escândalo olímpico. Vamos ao fato em questão.
Há décadas a Prefeitura do Rio desapropriou uma área na Barra da Tijuca pertencente ao grupo Carvalho Hosken para a construção de um bosque. Mais tarde a área acabou sendo utilizada para a construção do Pólo de Cinema e Vídeo do Rio. Naquela época da desapropriação foi feito laudo de avaliação e a empresa recebeu o que de fato deveria. Anos depois a Carvalho Hosken ingressou em primeira instância pedindo reavaliação do valor da indenização paga, porque, segundo o seu proprietário, houve desvio de finalidade, o que era para ser um bosque virou Pólo de Cinema e Vídeo. Perdeu na primeira e na segunda instâncias e então recorrereu ao STJ. O argumento de desvio de finalidade é absurdo, já que o que está em questão é o valor da área que foi pago na época, conforme apontava o laudo. O que a prefeitura iria fazer com o terreno é problema dela.
Pois bem, tudo caminhava para a confirmação da decisão de primeira e segunda instâncias. O relator do caso, o ministro Benedito Gonçalves já havia inclusive proferido seu voto. Eis que um fato pouco usual ocorre. O ministro pede vista do seu próprio voto e suspende o julgamento. A Procuradoria do município está em polvorosa. Se a decisão for a favor do empresário contra a prefeitura poderá causar um rombo de mais de meio bilhão de reais para um município que já está com contas debilitadas devido, principalmente, ao “legado olímpico” da alma gêmea de Cabral, Eduardo Paes.
Me disseram que o prefeito Marcelo Crivella, que anda pelos corredores da prefeitura nervoso com o desfecho desse caso, e com as contas que Paes deixou para pagar. O ministro Benedito Gonçalves é carioca, conhece a Barra, sabe das dificuldades que o Rio vem enfrentando, tem sofrido nos últimos anos muitas injustiças, e certamente não fará uma injustiça dessa contra a cidade que ele tanto ama, o Rio de Janeiro.
A Barra, ao longo dos anos, tem sido cenário de vários escândalos no setor imobiliário devido à sua valorização, que o digam, a Cyrella, a Carvalho Hosken e outras, e o ministro Benedito, como bom carioca, conhecedor de leis, sabe disso, e além de fazer justiça vai julgar com o espírito carioca que não aceita que poderosos se aproveitem do dinheiro público.