Nossa postagem de ontem aqui no blog sobre o PGP (Padrão Globo de Propina) repercutiu tanto que as Organizações Globo divulgaram nota oficial, afirmando que a TV Globo não está sendo investigada, que condena a propina, e o mesmo lero-lero, que realizou uma investigação que interna que não apurou nenhuma irregularidade. Não parece ser verdade.
No Tribunal do Brooklin, em Nova Iorque, o nome da Rede Globo de Televisão já apareceu mais de 30 vezes, sendo que só Alejandro Burzaco mencionou a emissora brasileira 14 vezes perante a juíza Pamela Chem. Os valores da propina eram enviados por meio do ex-diretor de Esportes da TV Globo, Marcelo Campos Pinto para T&T, braço na Holanda da empresa de Buzaco, a Torneos em associação com a Traffic, do brasileiro e há época sócio da Globo, J. Hawilla.
Segundo vários delatores, Campos Pinto era o responsável dentro da Globo pela compra dos direitos de transmissão dos principais eventos esportivos no Brasil e no Mundo, o que rendeu à emissora brasileira bilhões de reais ao longo de pelo menos 25 anos.
A promotoria americana também já sabe – e este é o motivo da condenação pelo júri popular de José Maria Marin – que só em um dos casos, o ex-presidente da CBF recebeu R$ 8,95 milhões. Este acerto ocorreu durante uma reunião do Comitê Executivo da FIFA, da qual participaram Marin, Marco Polo Del Nero e J. Hawilla, que há época dos fatos era sócio da família Marinho em vários negócios. Na nota de ontem, a Globo diz que há quase dois anos não tem mais nenhum negócio com J. Hawilla. Sim, coincide com o início do FIFAGATE e a prisão de J. Hawilla.
Parece que as Organizações Globo acham que os brasileiros são idiotas, e tentam de toda a maneira esconder as ligações recentes de J. Hawilla com a família Marinho só desfeitas após a eclosão do escândalo. Também acham que os brasileiros são ingênuos. Acontece que dentro do processo que corre na Justiça americana está anexada uma procuração dada a Marcelo Campos Pinto para assinar contratos e negociar em nome da Rede Globo de Televisão, datada de 12 de março de 2013. No mesmo mês da procuração, a Rede Globo e a Televisa (México) acertaram com a empresa T&T o pagamento de US$ 15 milhões cada uma pelos direitos de transmissão das Copas de 2026 e 2030. A procuração é assinada por Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho, respectivamente presidente e vice-presidente do Grupo Globo. O documento dá poderes a Marcelo Campos Pinto para tratar da negociação dos direitos de transmissão dos torneios da entidade máxima do futebol.
Como agora dizer que não sabe de nada?
Durante duas décadas Marcelo Campos Pinto teve uma relação de intimidade com o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Aliás, há também em desfavor do ex-diretor da Globo um e-mail apreendido pelo FBI em meio à documentação de J. Hawilla. No documento o ex-diretor da Globo diz que está solidário com Hawilla naquele momento difícil, quando acabara de ser preso nos Estados Unidos.
Aliás, deve estar acontecendo neste momento uma grande disputa entre os procuradores americanos e franceses para ver quem prende primeiro Ricardo Teixeira. Os franceses encontraram uma conta com US$ 22 milhões em nome de Ricardo Teixeira numa investigação sobre pagamento de suborno para a Copa de 2022, no Qatar. Segundo a investigação francesa, a conta de Teixeira está no Banco Pasche, em Mônaco, que funciona como paraíso fiscal na Europa. O Pasche é uma filial do Credit Mutuel, banco francês, por isso se justifica a entrada das autoridades francesas na investigação. Aliás, outro brasileiro está sendo investigado na França, o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman.
O que levantou suspeita das autoridades francesas foram negócios do qatariano Ghanem Bem Saad al Saad, que presidiu o fundo Qatari Diar, e movimentou milhões na aquisição de imóveis em Paris, além de participações em centenas de empresas francesas. Os investigadores daquele país calculam em 182 milhões de euros, que ele movimentou em paraísos fiscais. A investigação cruza com o futebol porque o empresário qatariano foi presidente da empresa que financiou e patrocinou o amistoso entre Brasil e Argentina, em 17 de novembro de 2010, duas semanas antes da votação que definiu o Qatar como sede da Copa de 2022. Buscando o caminho do dinheiro encontraram dados envolvendo Ricardo Teixeira, e acharam a conta do ex-dirigente da CBF e suspeita de compra de votos para a Olimpíada do Rio (2016) com a participação de Carlos Arthur Nuzman. Está bem próximo da Globo cair numa situação complicada envolvendo a Olimpíada também.
Outra situação que vai deixar a Globo em situação muito difícil para negar sua relação direta com Marcelo Campos Pinto é que uma de suas empresas, a Sportmaster Marketing Esportivo aparece em pesquisa no Google com o seguinte endereço: Rua Jardim Botânico, 97. Este endereço pertence à Globo, e onde funcionam vários departamentos burocráticos, inclusive Recursos Humanos. A diretoria e o jornalismo ficam ali perto, a uns 900 metros, na rua Lopes Quintas. Porém no cadastro de CNPJ da Receita Federal, o endereço registrado é outro, Rua Santa Luzia, 29 – Fundos, no centro da pequena cidade de Areal. O local não é compatível para uma empresa cujo capital social é superior a R$ 1 milhão, como podem ver na imagem abaixo.
Insisto, a Globo está errando em sua estratégia de negar os vínculos com Marcelo Campos Pinto e J. Hawilla. Pode colar para quem tem má vontade em investigar a emissora. Para os investigadores americanos e franceses não há dúvida.