O Ministério Público Federal (MP) investiga se um esquema de corrupção envolvendo laranjas foi feito para ocultar o verdadeiro dono da empresa Atrio Rio. O grupo mantém atualmente nove contratos com o governo do estado.

Os acordos da empresa com o poder executivo são mantidos desde o governo de Sérgio Cabral. Só em 2020, eles receberam R$ 129 milhões. Desse total, R$ 37 milhões foram pagos em contratos de emergência e sem licitação, com a Faetec.

De acordo com o MP, no último mês, a empresa mudou de nome e de dono, aumentando as suspeitas de ilegalidade. As investigações apontam que o verdadeiro responsável seja o empresário Mário Peixoto, preso pela Polícia Federal (PF) na última quinta-feira (14).

Peixoto era sócio do ex-deputado estadual Paulo Melo. Os dois foram presos durante a Operação Favorito, porque surgiram indícios de que o grupo do empresário estava interessado em negócios em hospitais de campanha do RJ.

Lavagem de dinheiro

De acordo com as investigações da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da Refeita Federal, o grupo utiliza uma "complexa e sofisticada rede de lavagem de capitais". As autoridades acreditam que dezenas de pessoas se revezam a frente das empresas do grupo com o intuito de ocultar a figura do líder da organização criminosa. Segundo os investigadores, o principal nome do esquema é Mário Peixoto.

Laranjas

Porém, de acordo com as investigações e documentos obtidos pelo RJ2, o representante legal da Atrio Rio é Matheus Ramos Mendes.

Uma equipe do RJ2 esteve no endereço da Atrio Rio Service, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, mas Matheus não estava por lá.

- A gente queria falar com o Matheus?
- Não tem ninguém com esse nome aqui, não.
- Aqui não é a Atrio Rio?
- É, mas não tem ninguém com esse nome aqui não.
- Mas ele é o dono da empresa?
- Olha, eu não sei te dizer quem é o dono da empresa, não.

Até o final do mês de março, a Atrio Rio era formada pela MV Gestão e Consultoria, de propriedade de Vinícius Ferreira Peixoto, filho de Mário Peixoto, e pela GML Gestão de Ativos Empresariais, de Matheus Ramos Mendes. Vinícius também foi preso na última quinta-feira.

A reportagem também procurou por Matheus numa loja de motos, na Zona Oeste, e na casa dele, em Vargem Grande, mas o empresário não foi encontrado.

Mudança de nome

Depois de alguns anos sendo investigada por suspeita de desviar recursos públicos em contratos com o governo do estado, a Atrio Rio Service mudou de nome para Gaia Service Tech. No mês passado, a MV Gestão saiu da sociedade e Matheus Ramos assumiu os R$ 12 milhões em contas da MV.

Além disso, a Gaia mudou a sede e incluiu uma atividade que não existia na Atrio Rio anteriormente. Eles passaram a trabalhar com controle de endemias.

Na sede da nova empresa, os funcionários ainda não sabem da mudança no nome.

- Você conhece a Gaia?
- Não, nunca ouvi falar.

No site da empresa, a mudança de nome também parece não ter sido feita com muito cuidado. Em uma aba de apresentação da firma, ainda era possível ver o antigo nome.

Somente no terceiro endereço da empresa visitado pela reportagem, um funcionário já sabia das mudanças recentes.

- Eu preciso falar com alguém da Gaia ou da Atrio, que é a mesma coisa?
- Isso.
- A empresa mudou a razão social, né?
- Sim.

Mas no local também não foi possível encontrar o empresário Matheus Ramos.

- A gente queria encontrar o Matheus?
- O doutor Matheus não se encontra na empresa, não.

Outros envolvidos

Segundo as investigações, Alessandro Duarte e Cassiano Luiz, também presos pela PF, seriam os operadores financeiros de Mário Peixoto. Os são apontados como procuradores da conta bancária da Atrio Rio.

REPRODUÇÃO: G1

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