As irregularidades na área da Saúde investigadas na Operação Placebo, que apreendeu nesta terça-feira (26) documentos e celulares na casa do governador Wilson Witzel, encontram semelhanças com a teia de corrupção estruturada pelo ex-governador Sérgio Cabral: o uso do escritório de advocacia de sua mulher, Adriana Ancelmo. A suspeita é que o escritório da primeira-dama, Helena Witzel, também tenha sido usado para receber dinheiro indevido, pago por fornecedores com interesse em fraudar contratos firmados com o estado. Em 2017, Adriana Ancelmo foi condenada a 18 anos de prisão por ter usado seu escritório para lavar dinheiro e por ter integrado organização criminosa.
Em sua sentença, o juiz federal Marcelo Bretas afirmou que Adriana "recebeu por contratos fraudulentos celebrados por seu escritório de advocacia, com o fim de propiciar que a organização criminosa que integrava promovesse a lavagem de capitais que, em sua origem, era fruto de negócios espúrios.” E disse ainda que era "óbvio" que a tarefa desempenhada por Adriana Ancelmo era "da maior relevância, seja pela função de promover a lavagem de dinheiro seja pelo seu relacionamento íntimo com o mentor dessa organização criminosa".
O caso de Helena Witzel ainda está em fase de investigação. As buscas e apreensões desta terça-feira (12, no total) foram autorizadas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), por conta do foro privilegiado do governador.
A Polícia Federal identificou um contrato entre escritório de Helena Witzel e uma empresa que tem no seu quadro societário um homem apontado como operador de Mário Peixoto, empresário preso neste mês acusado de fraude e superfaturamento milionário no fornecimento de respiradores para o estado. As irregularidades teriam sido facilitadas por conta da dispensa de licitação, adotada pelo governo estadual, sob justificativa de dar celeridade a processos para o combate ao coronavírus.
Na decisão que autorizou o mandado de busca e apreensão na casa de Witzel, o ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, citou depósitos feitos em nome de Helena.
O MPF informou ao STJ que "novo compartilhamento de provas proveniente da Justiça Federal do Rio de Janeiro demonstra vínculo bastante estreito e suspeito entre a primeira dama do estado e as empresas de interesse de M.P. (Mário Peixoto), em especial o contrato de prestação de serviços e honorários advocatícios entre seu escritório de advocacia e a empresa DPAD Serviços Diagnósticos LTDA, bem como comprovantes de transferência de recursos entre as duas empresas".