A defesa do ex-governador Sérgio Cabral apresentará à Justiça uma carta escrita por Eduardo Paes, em março de 2014, que denota intimidade com Cabral. O objetivo é, diferentemente do que afirma Paes, mostrar que a relação entre eles era mais que institucional, com proximidade e participação em esquemas ilícitos. Entre as acusações, Cabral afirma que Paes expediu um alvará em troca de doação para a campanha eleitoral de 2016 e que o ex-prefeito arrecadou R$ 30 milhões, via caixa dois, para candidatos ao Senado do MDB em 2014. O ex-governador foi condenado a mais de 200 anos de prisão e, espera, comprovando o que diz, obter benefícios perante a Justiça. Paes sempre negou as acusações e também que mantivesse relação de amizade com Cabral. Em junho, Marco Antônio, filho do ex-governador, foi às redes para rebater as declarações do ex-prefeito, afirmando que ambos se frequentavam.

"Amigo querido, essa foto marca o momento em que nos encontramos de verdade. Ali iniciamos uma amizade profunda e sincera", escreveu Paes, no documento redigido em março de 2014, referindo-se a uma foto tirada durante a vitoriosa campanha para a prefeitura, em 2008. "Naquele momento começamos a mais linda história de amor ao Rio. Nesses últimos anos, fui testemunha de todo seu esforço e dedicação com essa cidade e esse Estado. Você foi transformador naquilo que fez. Você tormou sonhos em realidade em um lugar onde nem se sonhava mais", escreveu o ex-prefeito.

"Com sua força, você trouxe a esperança onde só existia desesperança. Foi uma honra governar ao seu lado nos últimos anos. Tomara que tenhamos a capacidade de manter a sua alma e seu espírito conosco na condução do Rio nos próximos anos. Como homem público, obrigado pelos ensinamentos, da tolerância com as diferenças, da compreensão da grandeza da nossa missão, do desapego do poder pelo poder, por ensinar a preocupar-me com aquilo que de fato importa", finalizou Paes, na carta que advogados de Cabral apresentarão à Justiça.

Procurado pelo GLOBO no início da tarde desta segunda-feira, Eduardo Paes não se manifestou sobre a reportagem. À Justiça e nas redes sociais, o ex-prefeito nega que mantivesse relação de amizade com Cabral, bem como cumplicidade em qualquer esquema ilícito.

Paes tem criticado as gestões do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e do governador Wilson Witzel (PSC) e focado em divulgar realizações de sua gestão à frente da cidade, como a revitalização da Região Portuária.

"A gente brincou na eleição de 2016 (que elegeu Crivella) e brincou na de 2018 (que elegeu Witzel). Não dá mais para brincar com o Rio", disse nesta segunda-feira (21) em uma participação ao vivo no Instagram.

Paes também usou o Twitter para, ironicamente, repercutir uma reportagem na qual Witzel, investigado por desvios na Saúde, declarava não acreditar em delação de quem está preso:

"Jura? Como está mudada a opinião do ex-juiz, não?", postou, fazendo alusão à campanha de 2018, na qual Witzel usou um vídeo da delação do ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto para enfraquecer Paes na corrida eleitoral.

REPRODUÇÃO: O GLOBO

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