Anfitrião de encontros que se tornaram célebres na história da política fluminense, como o convescote em Paris que ficou conhecido como a “farra dos guardanapos” e os jantares da propina em sua casa no balneário de Mangaratiba, o ex-governador Sérgio Cabral foi um dos convidados para subir a serra e conhecer a mansão usada pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar.
Como revelou o Metrópoles na semana passada, a mansão em Teresópolis, avaliada em cerca de R$ 10 milhões, foi comprada em sociedade pelo deputado e por um amigo dele, o advogado Jansens Calil Siqueira, que também é dono cobertura onde Bacellar mora, em Botafogo, Zona Sul do Rio.
A mansão foi adquirida por R$ 3 milhões. Calil pagou R$ 2,5 milhões e Bacellar teria arcado com R$ 500 mil. É o deputado, porém, quem usa o imóvel. Pela cobertura, o advogado deu R$ 2,1 milhões. Ele diz que, para utilizá-la, Bacellar lhe paga um aluguel de R$ 2,2 mil — um valor muito abaixo do praticado na região.
A reportagem mostrou que, nas duas compras, Jansens Calil usou pelo menos R$ 3,6 milhões em dinheiro vivo. O advogado admitiu o “favor” ao presidente da Alerj e disse que cede os imóveis por interesse. “Nada é de graça. O cara é influente e conhece um monte de gente. (…) Rodrigo abre portas para mim em decorrência do próprio cargo que ocupa”, afirmou.
A mansão em Teresópolis tem sido usada para diversos encontros políticos. Ao Metrópoles, Sérgio Cabral confirmou que não apenas esteve com Bacellar na propriedade como chegou a pernoitar por lá após sair da cadeia, em dezembro passado, graças a uma decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). A visita de Cabral ocorreu no fim de junho, quando a propriedade ainda estava em fase final de reforma — após ter sido adquirida, a mansão passou por uma série de obras que a deixaram nova em folha.
Amizade antiga
O ex-governador, que foi condenado a mais de 400 anos de prisão e até hoje usa tornozeleira eletrônica, diz ser amigo do presidente da Alerj.
A intimidade com Rodrigo Bacellar vem de longa data. Cabral já era amigo do pai do deputado, o ex-vereador de Campos dos Goytacazes Marcos Vieira Bacellar, a quem se refere como “companheiro de muitos anos”.
Foi com o apoio do pai que Rodrigo Bacellar conseguiu um de seus primeiros cargos públicos por indicação: assumiu, justamente durante a gestão de Cabral, a presidência da Fundação Estadual do Norte Fluminense (Fenorte), vinculada ao governo do estado.
Parentes empregados na Alerj
A relação entre as famílias se manteve no período em que Cabral esteve na cadeia e é ilustrada por uma série de nomeações assinadas pelo deputado após assumir o comando da Alerj, no início deste ano. Hoje, o braço direito de Bacellar é Rafael Thompson de Farias, personagem experiente nos bastidores da política do Rio.
Farias é o atual chefe de gabinete da presidente da Alerj e foi convocado exatamente para ajudá-lo a se mover no novo cargo. Antes, ele já tinha exercido função semelhante: fora uma espécie de tutor do filho de Cabral, Marco Antônio Cabral, quando ele ocupou o cargo de secretário estadual de Esporte e Lazer, em 2015. À época, o governador era Luiz Fernando Pezão, que assumiu o cargo após a prisão de Cabral.
O próprio filho de Sérgio Cabral também foi abrigado na Alerj logo no primeiro mês da presidência de Bacellar. Desde então, ele está lotado no Departamento de Arquivo, com salário de R$ 9 mil, mas tem papel bem mais estratégico. Fontes afirmam que, usando a influência do pai, Marco Antônio Cabral tem feito a interlocução política de Bacellar com prefeitos e com empresas interessadas em fornecer para o governo do estado, de quem o deputado é aliado.
Até a mãe de Cabral está nomeada
Há outros nomes da família empregados na Assembleia. Ex-mulher de Cabral e mãe de Marco Antônio, Susana Neves Cabral também ganhou um cargo. No começo do ano, ela foi nomeada como assessora da presidência da Alerj. Recentemente, foi transferida para a Diretoria Geral, também vinculada a Bacellar, com salário de R$ 10 mil líquidos.
Susana foi investigada pela Operação Lava Jato como peça do esquema de lavagem de dinheiro montado pelo ex-marido. Ela chegou a ser condenada por sonegar R$ 5 milhões, após a Receita Federal ter encontrado movimentações financeiras superiores aos rendimentos declarados em sua conta, além de pagamentos em dinheiro vivo considerados suspeitos.
A mãe de Sérgio Cabral (avó de Marco Antonio Cabral, portanto) é mais uma integrante do clã que está na folha de pagamentos da Alerj. Magaly Oliveira Cabral Santos recebe R$ 16 mil líquidos dos cofres da Assembleia.
REPRODUÇÃO: METRÓPOLES