O Ministério Público do Rio está investigando uma obra do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) feita pela empresa Construverde.
A relação da Construverde com o poder público começou em agosto de 2019, quando a empresa fez a recuperação emergencial da cerca de uma casa na Vila Militar, Zona Oeste do Rio, por R$ 500 mil, depois do rompimento de uma tubulação.
Numa rua onde imóveis inteiros custam menos da metade do preço, o valor impressiona.
“Foi obra que a Cedae que fez, uma tubulação que estourou ali. Fizeram a contenção, porque a tubulação tava minando água. Eles tiveram que abrir a rua toda, um mês. Tiveram que fechar a rua, abrir um buraco, remanilhar a rua, refazer minha garagem toda”, disse o dono da casa que teve a garagem refeita.
Depois disso, a empresa não parou mais. Só com a Cedae, firmou R$ 196 milhões em acordos para obras cada vez mais complexas.
Algumas delas, segundo o empresário que participou de algumas concorrências, conquistadas na base de irregularidades.
"No dia, apresentavam todas as propostas, e eram já valores predeterminados. Então já se sabia o ganhador. Então, eles fazim um rodízio de ganhadores dos contratos de engenharia. Sempre as mesmas empresas ganhavam."
A obra emergencial do muro garantiu à empresa um certificado de experiência com o poder público. A partir dali a empresa pôde assinar muitos contratos. Alguns deles, sem licitação.
Ao todo, são R$ 400 milhões em compromissos firmados da Construverde com o poder público.
A Construverde, como o RJ2 mostrou, tem uma parceria comercial milionária há mais de 20 anos com outra empresa: a Zocar.
A Zocar tem ligações com o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar. Ele já foi visto voando no helicóptero da empresa.
O grupo empresarial da Zocar é investigado por extração ilegal de ouro, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Contratos polêmicos
A empresa parceira, a Construverde, assinou dois contratos polêmicos com a Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae). Um para fornecer água durante a pandemia, mas a habilitação da empresa para essa função só saiu um dia depois do contrato.
O outro foi para uma obra de R$ 80 milhões no sistema do Guandu. Nele, a Construverde comprou e alugou caminhões da Zocar.
Na época, Bacellar afirmou que os voos eram uma carona dada por um amigo, embora o amigo não aparecesse no voo. Trata-se de Marcos Zoboli, um dos sócios da Zocar, também investigado pela Polícia Federal.
O MPRJ abriu uma investigação para apurar se havia conflito de interesses de Bacellar ao usar o helicóptero. A apuração continua.
Agora, o MPRJ abriu mais uma investigação que envolve um órgão onde Bacellar tem forte influência: a Fundação Departamento de Estradas de Rodagem (DER).
O MP apura a contratação da Construverde pelo DER por R$ 71 milhões. A suspeita é de um superfaturamento de R$ 30 milhões.
O edital previa o uso de um caminhão específico mas, segundo os técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE), os veículos não eram necessários.
Os investigadores suspeitam que os caminhões da Zocar, tenham sido usados, se não nas obras, para dissimular a movimentação financeira.
Um documento mostra a abertura do inquérito que envolve o DER. A suspeita é de irregularidade no edital e restrição de competitividade.
A Zocar não tem contratos diretos com o poder público, mas é beneficiada indiretamente. Os contratos com a Construverde acabaram gerando bons negócios para a Zocar, que proporcionou os voos do presidente da assembleia.
No DER, a Construverde tem R$ 122 milhões em contratos. Dos seis contratos, quatro foram com dispensa de licitação.
Mas as investigações não param por aí. Nos bastidores, o presidente do DER, Pedro Ramos, e o vice, Gladstone Santana, são apontados como indicados políticos de Bacellar.
O DER já era alvo de uma investigação sigilosa por indícios de direcionamento de contratos para empresas de um determinado grupo político.
O RJ2 apurou que a antiga investigação do MPRJ e a mais recente estão interligadas. Em comum, elas têm alguns dos personagens sob suspeita.
O que dizem os citados
Rodrigo Bacellar vem negando todas as denúncias e diz que na condição de agente público, sempre preza pela legalidade. Ele afirma ainda que não tem conhecimento de contratos de terceiros nem vínculo sobre a relação empresarial da Zocar.
O DER disse que a contratação da empresa Construverde seguiu todos os trâmites legais e que os contratos já foram auditados pelo TCE, sem qualquer irregularidade em relação aos serviços de transporte de produtos siderúrgicos prestados pela Construverde.
O DER disse ainda que na atual gestão, nenhuma contratação sem licitação foi realizada com a Construverde.
A Construverde disse que ganhou a licitação com 30% de desconto e que tudo foi apurado pelo TCE, ficando nítido de que não recebeu antes da redução determinada pelo Tribunal.
Sobre os caminhões da Zocar, a empresa informou que comprou no ano passado, antes da licitação. Informou ainda que não tem conhecimento sobre outras atividades da Zocar.
REPRODUÇÃO: G1